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O COMPOSITOR NA ATUALIDADE. MÚSICA DE CONCERTO: Algumas Reflexões!
Calimerio Soares

 Ao final da primeira década deste novo século, perguntamos: Como estão o compositor e a música de concerto hoje em dia? Talvez, para alguns, esta não seja uma pergunta tão simples de ser respondida! No entanto, vamos tentar responde-la.
            O momento musical em que vivemos não poderia ser melhor. A riqueza, a variedade de possibilidades estéticas, tímbricas e rítmicas que permeiam as perspectivas de criação musical em nossos dias têm garantido uma produção bastante diversificada de obras para as mais diversas formações vocais, instrumentais, de multimídia e mistas.
            Entretanto, a retomada geral do gosto e interesse pela música tonal na atualidade parece estar se sobrepondo a todas as manifestações musicais de vanguarda oriundas do século XX. Vejamos, por exemplo, o movimento de “Música Antiga” (ou “Early Music”), que se iniciou na primeira metade do século XX e que agora parece consolidar-se predominantemente no cenário artístico mundial. O resgate da produção musical dos séculos XV a XVIII (juntamente com o respectivo instrumentário de época) vem despertando as novas gerações de músicos e ouvintes para esta manifestação artística. A produção musical do Romantismo (do século XIX), uma vez consolidada durante o século XX, parece estar ganhando também maior prestígio neste início de milênio. Que causas poderiam ser atribuídas a tudo isso? Seria uma delas o fato de essa música encontrar-se num plano mais recheado de belas melodias e harmonias sendo, portanto, mais atrativa?
            O movimento musical de vanguarda que se desenvolveu durante do século XX modificou todo o conceito estético da música dos séculos anteriores, tornando-a complexa e fortemente intelectualizada. Tal fenômeno causou uma ruptura entre a obra e o público, resultando a sua marginalização e mantendo-se apenas apreciada por pequenos grupos herméticos. Porém, uma reação profunda teve lugar durante as últimas décadas do século XX, trazendo-nos de volta a tonalidade. Deste retorno (que muitos acreditam ter sido um retrocesso), compositores como Philip Glass (1937), Henryk Górecki (1933) e Arvo Pärt (1935) ganharam fama e notoriedade. Mais ainda, ganhou maior ‘status’ entre nós, o advento da “Música Antiga”.
            Vivemos atualmente o chamado período do pós-modernismo, no qual convivem pratica e pacificamente todas as tendências estéticas de linguagem musical. Tudo é permitido e o compositor desvenda uma enorme gama de materiais sonoros, acústicos e/ou eletroacústicos, com os quais pode manipular convincentemente, buscando criar novos elementos estéticos e de linguagem, podendo assim dar vazão à sua atividade criadora.
            Conseqüentemente, o compositor necessitará sempre de um público. Em tempos passados, os compositores eram patrocinados por um mecenato proveniente da realeza ou da igreja, com o qual mantinham sua sobrevivência e, com isso, garantiam a música realizada nas cortes e nos templos. Com o surgimento da alta burguesia a partir do século XIX, modificou-se esse comportamento fazendo com que os compositores se tornassem autônomos. Auxiliados ou não por mecenas anônimos, os compositores tiveram que ganhar o seu próprio sustento. Surgiram então as primeiras sociedades de concertos sinfônicos que possibilitavam aos compositores mais renomados a execução de suas obras.  
            O aparecimento da energia elétrica mudou os rumos da atividade musical em princípios do século XX. A criação do fonógrafo possibilitou algum tempo depois o aparecimento da gravação em disco. Assim, foram dados os primeiros passos para a criação da chamada ‘Indústria Cultural’ que, anos mais tarde, viria a se impor até os dias atuais. Os grandes intérpretes do canto lírico realizaram gravações antológicas em série, registrando as obras então consagradas dos já consagrados compositores de ópera do século que havia terminado. O cinema - a princípio mudo - reunia músicos e compositores em pequenas orquestras que animavam as platéias de então, numa tentativa de ‘sonorizar’ os primeiros filmes. Alguns anos mais tarde, o cinema sonoro chegou e, com ele, a dispersão dos músicos que passaram a formar as grandes sociedades e orquestras sinfônicas do século passado.
            Acompanhando a evolução das artes plásticas, a música não poderia também deixar de evoluir. As tendências estéticas do impressionismo, seguidas pelo expressionismo do dadaísmo e cubismo na pintura influenciaram a música de maneira surpreendente. Uma radical ruptura com toda a tradição musical do passado pairava no ar. A série dodecafônica de Arnold Schoenberg (1874-1951) viria impor-se como o novo pensamento estético musical do momento. Além das novas regras de escrita musical ditadas por Schoenberg, um movimento de ‘vanguarda’ iniciava também um recrutamento de adeptos. Henry Cowell (1897-1965) preconizava o uso dos ‘clusters’ executados em suas obras. Anos mais tarde, John Cage (1912-1992) seria o multiplicador dessa nova tendência estética.  
            Apareceram então no Brasil duas facções distintas de compositores ao longo do século XX: os ‘nacionalistas’ e os ‘vanguardistas’. Os primeiros defendiam a tradição musical, incluindo (ou não) o uso do folclore de seus respectivos países em sua música e, os segundos, defendiam a radical ruptura total com a música do passado. Durante décadas, tal radicalização gerou justamente o afastamento do grande público da música moderna, que passou a ser cultivada por uma minoria de intelectuais.
            Entretanto, nesse ínterim, a redescoberta do cravo incentivada por Wanda Landowska (1879-1959) e de vários instrumentos antigos (flauta-doce, violas da gamba) desencadearam o interesse pela música escrita para tais instrumentos. A música de Johann Sebastian Bach (1685-1750) já não era mais somente executada através do órgão, dos coros e orquestras, mas também ao cravo (em substituição ao piano) justamente pelo advento da manufatura dos instrumentos de época. Despertou-se também junto aos estudiosos o desejo de investigar a música do passado no sentido de desvendar os paradigmas apropriados à sua execução mais aproximada de uma interpretação possivelmente ‘original’.
            No afã de seguir esse modismo, compositores da atualidade passaram a escrever obras para os instrumentos antigos, ora incorporando características estéticas dessa música em suas obras, ora enveredando-se por uma linguagem mais contemporânea e subjetiva. O famoso “Concerto para Cravo e Instrumentos” escrito por Manuel de Falla (1876-1946) e o “Concert Champetre”, escrito por Francis Poulenc (1899-1963) são testemunhos incontestáveis desse período inicial.
            Com a multiplicidade de componentes estético-musicais de linguagem existentes em nossos dias, perguntaríamos: O que e para quem escrever música? Tal questão poderia ser tomada como uma instigação/motivação e, ao mesmo tempo, como decepção/desmotivação para um compositor. A indústria cultural tem exercido um forte poder sobre os meios de comunicação e divulgação, promovendo um sutil e complexo direcionamento dos consumidores para um gênero de música de consumo que pulula massiva e insistentemente em nossos ouvidos. O que se tem utilizado atualmente como ensino musical nas escolas é justamente essa música massificada, não deixando sequer espaço para a música folclórica e, muito menos, para a música de concerto. Com isso, estamos perdendo as nossas raízes musicais e culturais.
           
            Além disso, as escolas de música - tanto as de nível médio quanto as de nível superior - parecem continuar compromissadas somente com o ensino das obras musicais do passado, deixando de lado a preocupação com a preparação dos futuros músicos para a execução da música contemporânea.
            Desta forma, os compositores contemporâneos de música de concerto estão em grande desvantagem em relação aos gêneros musicais em voga hoje em dia. Se os grandes compositores da renascença, dos períodos barroco e clássico, do romantismo passam a ser mais e mais ‘populares’, quando é que os compositores de hoje terão a oportunidade de terem executadas as suas obras com a mesma regularidade com que assistimos à execução das obras do passado? Teremos mesmo que ver nossas obras sacrificadas no presente em detrimento das grandes obras dos séculos anteriores? Nada contra em relação à música do passado! Mas, e o futuro da Música?

 


Escrito por Calimerio Soares
Desde Brasil
Fecha de publicación: Abril de 2010.
Artículo que vió la luz en la revista nº 0015 de Sinfonía Virtual

 
 

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